Governador de Rondônia gasta mais de R$ 4 milhões em viagens internacionais com diárias turbinadas em 80%

Viagens frequentes ao exterior, aumento silencioso nas diárias e falta de transparência levantam questionamentos sobre os reais benefícios das missões internacionais de Marcos Rocha
O governador de Rondônia, Marcos Rocha, tem se tornado cada vez mais ausente do Estado – e mais caro para os cofres públicos. Desde janeiro de 2023, Rocha autorizou, por meio da Portaria nº 17/2023 da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão (Sepog), um aumento de quase 80% no valor das diárias para viagens internacionais: de US$ 416 para US$ 741. A medida foi tomada de forma unilateral, sem estudo técnico, debate legislativo ou consulta pública, sendo publicada discretamente no Diário Oficial durante o recesso institucional, em 10 de janeiro.
Entre 2023 e 2025, o governador passou 190 dias fora de Rondônia em compromissos no exterior — mais de seis meses em agendas classificadas como “estratégicas”. De eventos sobre pesca nos Estados Unidos a conferências climáticas no Azerbaijão, passando por Israel, Japão, China, Bolívia e Peru, as viagens resultaram em mais de R$ 615 mil apenas em diárias para o governador. Com os cinco membros regulares de sua comitiva, os gastos ultrapassam R$ 3,7 milhões, sem contar passagens aéreas, hospedagens extras, tradutores, intérpretes e outras despesas pagas com dinheiro público.
A reportagem analisou apenas viagens internacionais com documentação oficial disponível. Contudo, os valores podem ser ainda maiores ao se incluir deslocamentos nacionais e intermunicipais, frequentemente cobertos por sigilo sob justificativa de segurança.
Justificativas vagas, resultados inexistentes
A maioria das viagens tem descrições genéricas como “estreitar laços”, “buscar investimentos” ou “fortalecer relações internacionais”. Contudo, não há registros de relatórios técnicos, contratos firmados ou projetos concretos que demonstrem os supostos benefícios dessas missões. Um exemplo é a participação de Marcos Rocha na COP28, nos Emirados Árabes, que teve ampla divulgação institucional, mas não gerou nenhuma ação efetiva em Rondônia após o retorno da comitiva.
O mesmo padrão se repete em outras viagens à Ásia e ao Oriente Médio, sempre com alto custo, mas sem prestação de contas sobre os resultados alcançados.
Falta de controle e silêncio das instituições
O aumento das diárias foi implementado sem qualquer parecer técnico, deliberação da Assembleia Legislativa ou manifestação dos órgãos de controle. Não há registro de fiscalização pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-RO) ou pelo Ministério Público de Contas, o que levanta suspeitas sobre a legalidade e moralidade da medida.
Com a nova diária, Marcos Rocha recebe mais de R$ 3.700 por dia em viagens internacionais – valor superior ao salário mensal de boa parte dos servidores públicos estaduais.
Viagens como bônus institucional
Na prática, quanto mais viaja, mais o governador e sua comitiva ganham. O modelo atual criou uma espécie de bonificação institucional, sem metas claras, critérios de escolha transparentes ou exigência de contrapartida concreta. As viagens internacionais se tornaram uma vitrine política nas redes sociais, mas continuam sem entregar resultados visíveis para a população de Rondônia.
Enquanto instituições de controle permanecem em silêncio, Marcos Rocha segue acumulando carimbos no passaporte — e valores vultosos no contracheque.